Pular para o conteúdo principal

À procura de uma expressão: literatura.


 Boa noite!!
Desde os meus primeiros contatos com as escolas literárias – da forma didaticamente nomeada mesmo -, tive (e tenho) bastante dificuldade em definir se gostava mais do romantismo ou do realismo. Para ser sincera, foi em um dia no cabeleireiro, que mudei algumas concepções – positivistas até – sobre literatura. Até a tal data, fazia ainda 1º ano, eu dizia: “gosto de ler, mas não gosto de literatura, gosto de cultura e não de literatura”. “Mas que diabos, e pode?” É... Não pode, porém é permitido ter uma visão restrita e que – Graças a Deus – tive a oportunidade de reformular e construir opiniões melhores! Sim... E volto ao cabeleireiro e realismo (quer mais realismo do que tirar conclusões banais em dias e atividades comuns?)... A moça com a qual conversava disse: “Ah Sabrina, deve tá adorando estudar literatura não é? Você é apaixonada por história e por leitura, então fica mais fácil!” Bom, fiquei “estatelada” e respondi com um mero... “não é bem assim...” a partir de então me dispus a pensar e repensar sobre a questão e percebi que, primeiramente, não era de literatura que eu não gostava, apenas não tinha tirado o “gesso positivista” o qual permeava meus estudos e concepções; literatura não é decorar datas e marcos sucessivos das escolas literárias e foi somente quando entendi o quanto ela é ampla que pude desenvolver uma paixão muito especial.
E em mais uma tarde de pensamentos vagos sobre literatura, chego à conclusão de que ela não é, apenas, a arte cuja matéria prima é a palavra [conforme está em todo livro didático nos primeiros capítulos]. Ela é, na verdade, uma arte e ponto, todo o resto é descrito somente na prática, em essência, não se pode descrevê-la completamente, se pode tentar, mas, o principal, deve-se conhecê-la. Toda a história do homem é atrelada a alguma forma de cultura por ele produzida, e em várias das minhas tentativas de procurar responder “o que é literatura?” apenas cheguei a diversas respostas “corretas”, em síntese: “A arte literária jamais estará desvinculada das outras artes, o homem nunca esteve desvinculado das suas manifestações culturais e artísticas, logo, seja pela palavra acabada através da estilística e compreendida pela semântica, seja pela escultura bem acabada pelo cinzel, ou o olhar dirigido à pintura, é tudo a essência do ser em plena manifestação”.
Pensar. Escrever. Ler. Ver. Sentir. Refletir.
(Os verbos, neste caso, intransitivos responsáveis por fazer da literatura algo que não pede complemento!)

E se alguém ainda possui alguma dúvida se a literatura é mesmo tão intrínseca a arte, tão relacionada à cultura, à história, à filosofia, à sociologia, enfim ao homem, então pare ao menos para pensar na vida escolar, nos programas vistos na TV, pensar nas músicas ouvidas, para não dizer, dos livros. Quem nunca foi ao cinema ou assistiu a um filme, na TV mesmo, cujo roteiro não fosse uma adaptação de um livro? Ou o contrário? Grandes roteiros de cinemas os quais viraram grandes histórias literárias? E não falo apenas de Harry Potter, O diabo veste Prada, O menino do pijama listrado e obras mais contemporâneas. Lembremo-nos, então, das várias adaptações da Ilíada, pode até não ter tal nome, mas ainda sim, falam sobre a Guerra de Troia.  Por que ainda hoje escrevemos, contamos ou lemos sobre mitologia? É parece que nem tudo é anacrônico, pelo menos não a literatura.
            Em um mundo de crise e quebras, ela se renova, mas não se perde. Para quem se acha assim tão original... Basta saber que os belos sonetos são uma forma fixa perpetuada desde a antiguidade e que ainda hoje, com todo o romantismo ou não, encantam. Que as sátiras manifestadas através dos quadrinhos, das charges, das criticas, das crônicas, são estudadas no lírico medieval [escárnio, maldizer], para não falar de todo o subjetivismo [quem se “enrola” em uma redação por não saber ser objetivo não deveria dizer que não sabe o que é isso! Quem já declarou amor a alguém ou a algo também deve saber o que é].
            Não só a literatura, mas ela de uma forma singular, permite um intercambio apaixonante com todas as artes, com todos os sentimentos, mostra os desejos e medos de uma época, de seres humanos.
            E Por fim, para quem diz: “Não gosto literatura, mas gosto de musica... sabe?”, é sei... E sei também que de novo a nossa falta de originalidade se faz presente, tudo isso nunca morreu, se antes chamamos o gênero Lírico de Lírico por vir do nome “Lira” (instrumento musical com o qual se acompanhavam as poesias na antiguidade) e conhecemos o que é “Poesia musicada” por que não considerarmos a musica, hoje, “poetizada”? É... Música, riso, poesia, cinema... Tudo é literatura, tudo é arte, porque então não juntar tudo numa coisa só?!
 
“Tem horas que a gente se pergunta...
Porque é que não se junta
tudo numa coisa só”.
(O teatro mágico – Sintaxe à vontade)


A livre expressão...onde já se viu juntar a Bíblia, a música, batalhas e camões? É só a genialidade mesmo, expressa pela arte, pelo mesclar de sentidos, porque a vida também é uma sinestesia.

O amor é fogo que arde sem se ver
É ferida que dói e não se sente
É um contentamento descontente
É dor que desatina sem doer
Ainda que eu falasse
A língua dos homens
E falasse a língua dos anjos
Sem amor eu nada seria
(Legião Urbana – Monte Castelo)
E para quem não entendeu o porquê afinal de começar o post pela dúvida crucial sobre a preferência entre o realismo e o romantismo, é simples... Conforme diria Sartre: “Ninguém aguenta 24h de realidade”, mas se segundo Aristóteles: “A verdade é a unica realidade”, então que sejamos realistas enquanto aguentarmos as nossas verdades e sigamos Einstein em: “A imaginação é mais importante do que o conhecimento” e busquemos conhecer o nosso imaginar para que possamos ser romanticos o quanto quisermos, enquanto durar e por fim entendamos que mesmo a nossa vida real é um romance.
Ah, é...parece que cheguei a uma resposta, não prefiro o realismo ao romantismo nem o contrário, gosto mais de gostar dos dois.
“Allow yourself”.
PS.: Tanto tempo para postar... Peço desculpas.

Comentários

  1. Gostei muito do texto. E ainda digo mais: tive as mesmas duvidas que tu. Mas isso sempre acontece, afinal literatura é arte, e arte é pra isso, expressar o mundo.

    ResponderExcluir
  2. Gostei bastante!
    Achei uma arte *_*

    ResponderExcluir

Postar um comentário

Postagens mais visitadas deste blog

Tempo de sobra

 O que é tempo sobressalente quando, na verdade, nosso tempo é gasto no viver? Sempre me deparei, pessoalmente, com esta pergunta. Digo gasto, porque, em campo terreno, há uma quota limitada para cada um de nós. A propósito, inexorável.  Hoje, mais uma vez, continuei um dos títulos não-ficcionais que gosto de manter na cabeceira de leitura, para afiar as reflexões. O escolhido, ontem, foi "Sem tempo a perder", uma coletânea de textos da Úrsula Le Guin, dama da ficção científica, co-incidentemente com excertos tirados de quando ela também resolveu escrever em um blog.  Primeiramente, poucas pessoas estariam tão bem qualificadas para falar sobre "tempo", embora aqui nos caiba mais o aspecto filosófico do que científico a respeito dele, mas, talvez, ambos sejam indissociáveis. Em segundo momento, fico feliz de ter as mesmas elucubrações de grande nome da literatura, mas também devo dizer, ficaria ainda mais, caso tais conjecturas fossem mais comuns, entre nós, no nosso

Escape

Parece que vivemos em um mundo de paixão desenfreada pela rapidez, pela grande eficácia, tudo altamente veloz, conturbado e ultra processado, uma vida de "fast", em que nos perdemos no próprio processo. De tão rápido e superestimulados, parece que estamos constantemente fatigados. E, embora eu tenha relacionado, nos dois últimos escritos, esta saturação à pandemia atual, as outras 'pandemias' - não tão metafóricas assim e ainda vivenciadas -, elas também trazem consigo um pedaço de cansaço, uma sensação de peso, de que é proibido parar ou desacelerar pelo mínimo momento que seja, que isso não condiz com o que a atualidade prega ou faz.  O fazer ganha muitos espaços nos nossos relógios e nas nossas rotinas, enquanto o nosso tempo perde bastante qualidade. Tornamo-nos cada vez menos eficazes porque não sabemos quem somos, aonde queremos ir, do que gostamos, o que devemos fazer e quando devemos parar ou continuar. Reduzimo-nos a uma lista de tarefas, repetidas nos dias. 

Memória afetiva

  Há um ano, li " O sol é para todos", livro famoso, ganhador do Pulitzer, livro fantástico que por detalhes bem singelos, tornou-se um dos meus favoritos de fato. Agora, com mais um ano nas costas, em um "dia das crianças" - no qual me afasto cronologicamente de quando eu era uma -, termino um outro livro, do qual também gostei bastante, mas bem menos famoso de um autor muito conhecido sim. Foi uma leitura muito aprazível, daquelas que te deixam leve, que carregam o peso de uma pena, mas a importância de um mundo. Se a preguiça me agarrasse em cheio quando me perguntassem: "Por que você gostou tanto assim, não é sequer um dos mais conhecidos do autor, ou não trata de nada tão assim distópico, fantasioso, por que se importou? Talvez eu sequer tentasse formular uma resposta.  O fato é: não é preciso formular nada, pois é fácil, o encanto veio com um "puxavanco" à memória! Com uma linguagem em uma bela prosa poética, claro. Só não poderia eu dizer que m