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Tell me, baby, what's your story?




Boa noite!
Troquei a foto da capa do meu facebook hoje por a foto acima, ao passo que escutava "Tell me baby" - Red hot chilli peppers. Daí, então, lembrei-me que há algum tempo, eu tinha algo a dizer...

Quando fiz 15 dias em uma outra faculdade no começo do ano, eu lembro de ter um lema da palhaçoterapia que era: "SOS" e que, neste caso, não significava um pedido de socorro, na verdade, até era sim, mas um pedido muito especial, queria dizer: "Sinta, olhe e sorria!". Geralmente, detalhes assim passam despercebidos pelos problemas, quando se olha para um paciente, por vezes, é comum se ver uma doença a frente de um indivíduo, uma condição, um estado e não um ser. Passei todos esses meses pensando, no SOS...até que, nas minhas idas ao posto eu tive uma experiência bem simples, a qual, acrescida do meu convívio com pessoas iguais nas suas diferenças, me mostrou um pouco sobre o quanto um pedido de socorro pode não estar expresso pelo desejo de cura física, por diagnósticos ou por algo material. 
Esse tipo de experiência, embora pareça um detalhe, lembra-me que nenhum detalhe, na profissão que eu escolhi, é irrelevante. 

Cheguei na casa de uma senhora, que há alguns meses tinha tido um AVC, não preciso contar mais detalhes...ela estava tão, tão aflita que eu achei que tinha ocorrido há poucas semanas, ou, no máximo, há um mês. Depois de alguma conversa, descubro que o mal físico tinha começado há 6 anos. O que me chamou a atenção, no entanto, de maneira alguma estava nos relatos de dores, porque foi impossível não notar que tudo que ela queria era ser ouvida, que a aflição era a menos abstrata das dores, a emocional. Às vezes, nos questionamos, o que fazer em um USF quando não se sabe fazer nada de clínico? Cada um tem sua resposta no tempo certo, mas a minha veio me lembrar de que cada um tem a sua história, uma história que quer ser ouvida, compreendida, aquela que não sente necessidade de um julgamento. Essa experiência de 30, 40 min, me fez ver que fazer nada nem sempre quer dizer nada, o "fazer" nada é aquele tudo que eu posso fazer, por mais que me pareça pequeno demais, pode ser significativo demais para outra pessoa. 

Lao Tsé disse: "Quem olha só para si, não ilumina o mundo"...eu completaria, quem olha só para si, não conhece o mundo, não descobre as histórias que estão encobertas pelas alegrias, pelas dores e pelo peso de  cada um ser quem é!
Estar disposto a ouvir, sem ter as respostas previas em mente, como um fatídico determinismo, já é um grande avanço!

Comentários

  1. Assisti a um filme ontem chamado Elefante Branco, do diretor argentino Pablo Trapero, muito interessante. Não falarei do filme, mas de um personagem específico, Nicolás, um padre belga, que após vários anos na selva amazônica vai trabalhar junto ao seu amigo Julián, um padre que fazia um trabalho muito importante na Ciudad Oculta, uma favela argentina. Precisei falar isso porque em uma das cenas, Nicolás está com Luciana e ela pergunta porque ele fala tão pouco. Ele diz que aprendeu nos anos em que passou em silêncio total, mais ou menos 9 meses, a pensar bastante as palavras antes delas saírem da boca. Com isso posso dizer que a atividade de escutar também anda junto quando se sabe pensar o que queremos dizer. Sem dúvida, Sabrina, em muitos momentos precisamos nos calar e abrir bem os ouvidos para entender o mundo, através das aflições, angústias, alegrias dos indivíduos. Eduardo Galeano afirma o seguinte: "Para que alguém seja capaz de falar, tem que ser capaz de escutar, por isso temos duas orelhas e só uma boca". Continuemos com nossa árdua atividade de pôr no papel nossos mais profundos pensamentos. Um cordial abraço!

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  2. Nossa Sabrina, que tocante isso...sinta, olhe, sorria, três verbos que em sequência são capazes de mudar o rumo de um dia inteiro.É sempre bom para a construção não só do médico, mas de todo ser humano parar de olhar para o próprio umbigo e tentar entender o outro em toda sua vivência e complexidade inerente e perceber que por vezes o simples ato de escutar alivia a alma de alguém.Um ser humano não é somente, ossos, músculo, vasos e nervos, está carregado de subjetividade que precisa ser considerada!Quem melhor para fazê-lo se não tu?? Muito lindo isso! Beijinhos!

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  3. Caramba, intenso, choque de realidade, esse texto me fez perceber o quanto deixamos o tempo passar, pessoas.. sentimentos.. Nossa, muito forte, como sempre bastante expressiva e descritiva, me senti fazendo parte da história, parabéns!
    Lindaa..

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  4. Adorei. Muito bom meesmo. Ah, muito tocante essa história da senhora. Parar pra ouvir alguém talvez seja o melhor que estamos fazendo por ela naquele momento. Continue escrevendo lindamende :)
    Beeijos, Sah.


    Ivanilde

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  5. Muit bom o post.

    Esse é o grande problema da atualidade, às pessoas não ouvem mais umas às outras. Nesse era da praticidade, das correrias do trabalho e escola e da internet, as pessoas estão cada vez mais sentindo falta de afeto humano.

    O contado humano hoje em dia é limitado, muitos só interagem com aqueles que estão ao seu redor, e com os quais é extremamente necessário interagir. Além disso, com a internet, ninguém mais precisa estar perto para interagir, já que posso falar com qualquer um, mesmo que esteja do outro lado do mundo.

    Essa era da informática contribuiu muito para afastar as pessoas, que estão cada vez mais carentes de afeto e, principalmente, de alguém que as ouça.

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  6. Deixei teu blog salvo, pra depois ler tudooo, e escolher o que mais gostava, aí logo no começo já me apaixonei por esse post e quis logo comentar *-* Kkkkk

    Muito lindo, e de uma sensibilidade imensa, é bonito ver esse sentimento, não só por parte de uma medica que vê o paciente além da doença, mas como pessoa, que vê não só a primeira imagem de quem está a sua frente, e sim, quer conhece-la, ver o que tem por trás da aparência ...

    Acaba de conquistar uma fã Kk Fernanda Danielle ^^

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