Pular para o conteúdo principal

As irmãs.

Irritação cotidiana, tédio?
O irmão corruptor de toda a empolgação, quando ela se esvai, ele entra.
Já ele, só se apaga, quando ela ressurge.
Um ciclo.
O ciclo cria-se e perdura pela explosão diária dessas sensações irmãs.
Que, assim, revezam-se sempre, em transições intermitentes.
Dia e noite.
Pois, quando finalmente “con-viverem”, eis que nascerá o equilíbrio...
O Sentido.
A persistência do que, de fato, fica.



Meses sem postar, quase ano, sem escrever nada. E, exatamente, por causa da sensação, à qual se atribui o "fazer nada",  é que eu volto a dar um rumo às palavras: O tédio.
Sim, o tédio, não a empolgação.
Tantas vezes estive absurdamente envolvida de certa empolgação, mas tantas vezes iguais ela não perdurou o suficiente para se tornar concreta, um fato.
Daí, eu percebo o quanto equivocados ou simplistas somos a nos desfazer do tédio, ele que acaba pegando um ou outro, todos, em algum momento, e que, não, não significa fazer nada. Na verdade, em algum ponto, ele mesmo nos impele a buscar: o desejo profundo de sair da inércia, boa ou ruim, mas da qual devemos sair, para criar, em um lapso de empolgação, o momentâneo e inteiramente desejável: o novo. Só o impulso do tédio nos leva ao ápice da empolgação. Um dá fim ao o outro e, em um renascimento constante, a criação, a retomada, daquilo que dá sentido à vida: o desejo, a curiosidade da alma.

É...faz parte:

"Atenção: essa vida contém cenas explícitas de tédio. Nos intervalos da emoção" - (Alice Ruiz)

Quase todos os homens vivem inconscientemente no tédio. O tédio é o fundo da vida, inventou os jogos, as distrações, os romances, o amor."
(Miguel de Unamuno)

"A vida é curta, mas o tédio prolonga-a. Nenhuma vida é curta o suficiente para que o tédio nela não encontre seu espaço."
(Jules Renard)


Excelente semana.




(Tédio - Biquini Cavadão)

P.S: Um post sobre tédio em um domingo, que senso comum mais apropriado:)

P.S.2: Concordo  com algo dito pelo pintor Cezanne, mais ou menos assim: “Não faço mais do que mudar de lugar o tédio que me persegue”. Até porque de fato acredito que mesmo do maior pessimismo, na maior dicotomia, algo bom nasce.

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

Tempo de sobra

 O que é tempo sobressalente quando, na verdade, nosso tempo é gasto no viver? Sempre me deparei, pessoalmente, com esta pergunta. Digo gasto, porque, em campo terreno, há uma quota limitada para cada um de nós. A propósito, inexorável.  Hoje, mais uma vez, continuei um dos títulos não-ficcionais que gosto de manter na cabeceira de leitura, para afiar as reflexões. O escolhido, ontem, foi "Sem tempo a perder", uma coletânea de textos da Úrsula Le Guin, dama da ficção científica, co-incidentemente com excertos tirados de quando ela também resolveu escrever em um blog.  Primeiramente, poucas pessoas estariam tão bem qualificadas para falar sobre "tempo", embora aqui nos caiba mais o aspecto filosófico do que científico a respeito dele, mas, talvez, ambos sejam indissociáveis. Em segundo momento, fico feliz de ter as mesmas elucubrações de grande nome da literatura, mas também devo dizer, ficaria ainda mais, caso tais conjecturas fossem mais comuns, entre nós, no nosso

Passagem

  Escrita Quando pensamos em escrever ou em escritores, já pensamos em "passadores de mensagens". Parece vir à mente a inerência de que ela é feita para o outro...mas se a escrita for uma passagem? Não seria ela feita de descobertas? Afinal, quando escrevemos (isso, me incluo, o eu no nós)...quando escrevemos sempre deixamos algo de nós a existir no mundo. E só de passagem nos damos ao outro. Quando somos lidos, somos vistos por outros olhos e em outro mundo. Sim, nossas descobertas são, de passagem, leitura de outro. 25 de julho, dia do escritor. P.S.: (para não perder o costume) nada mais justo um rascunho postado sobre escrita, quando o último escrito por aqui, há 2 anos quase, foi meu legado. Quem sabe...à espera de uma volta?

1941.

 Há muito, tive vontade de retornar a escrever, hoje o faço, não sei por quanto ou até quando, só que todos - que importam - sabem como funciona este blog, vai, volta, nunca acaba (ainda bem). Um dos motivos pelos quais não retornei a escrita tão cedo é o mesmo motivo que a tornaria tão possível: ainda que este ano (2020) seja um grande fomento para tal, pois tragédias historicamente são terrenos férteis para as letras, não me trouxe vontade de tornar este lugar mais um meio gratuito de veicular nada particular ou socialmente sombrio... Até que hoje, pela madrugada, eu tive um sonho (de fato) que até achei interessante e relacionei de imediato a um trecho do livro "Os meninos que enganavam nazistas" que algumas horas depois li. E dizia:  "É bom ficar sempre com um pé atrás: o momento em que acreditamos ter vencido é sempre o mais perigoso". Antes disso, um sonho: Eu retornava do trabalho, na minha cidade pequena relativamente mais segura do que a maioria, a pé, quan