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In spite of.

Após uma pequena torção que me obrigou a repousar antes que tudo piorasse (sem dramas), resolvi usar meu tempo para rever a Trilogia do Poderoso Chefão e, por fim, escrever aqui para convencer a mim de que eu não faria do escrito da semana passada apenas um lapso, então cá estou.

De início, eu pensei em escrever, e até de forma nada polida, sobre tudo que eu discordava: a visão propagada por aí do "amor", relacionamentos atuais, blá, blá, blá  tudo que eu não gostaria de ter vivido o suficiente para ver se transformar em um grande clichê de muito mau gosto. Só que escrever assim não seria bonito, interessante, seria outro equivocado clichê e que me faria, aliás, parecer muito mal amada (equivocadamente, diga-se de passagem) hahahahahha...Logo vamos apenas falar de amor. Certo? É, amor. 
Que tipo?
Amor, ué, porém, se queres uma classificação, dá-la-ei: o Universal, o suplementar, o primitivo, que de tão fundamental, é sempre caracterizado, mas completamente definido? Jamais.
Quando revi os filmes, contexto violento e histórias fantásticas à parte, foi impossível a mente não recorrer de imediato ao seio onde damos os primeiros passos em direção ao amor: a Família. No lar, em cada momento bobo e, ao mesmo tempo, importante é que ganhamos a oportunidade de vivenciar o amor de forma rotineira, singela, simples e perfeita. Com o tempo, com as costas pesadas de duras histórias, experiências amargas e concepções reducionistas, muitos de nós deixamos de lado aquilo que dava sentido ao amor. Começamos a culpá-lo e caracterizá-lo com uma leva de sentimentos outros, muitos negativo, alguns positivos, todavia bastante superficiais e que se relacionam com tudo em nós, menos com o amor, com amor que sentimos, vivemos um dia e, principalmente, somos capazes de oferecer e ampliar.
Não é que eu acredite no amor de maneira ilusória, mas até hoje, tudo que eu consegui aprender foi que ele não é torto, imperfeito, mal acabado, assim somos nós. Imperfeita é nossa ótica. Mal acabado é o nosso interminável caminho. E, principalmente, aprendi que o amor é o que nos possibilita, ele não é um sentimento, ele é o mundo em nós; É ele que traz à luz o que é impensável, improvável, obscuro e transforma em possibilidade real: de ser, de viver além de nós e apesar de.

Então, um convite, da próxima vez que pensarmos em uma desculpa que ponha a culpa no que dizem ser por aí o amor...Poderíamos tentar, ao menos, perceber-nos dentro do nosso mundo interno onde o o amor não deveria ser uma palavra, ou uma pessoa não apenas, onde ele deve ser o nosso todo. Isso, todo. Não uma parte à espera do que a completa e, sim, o todo. O todo que combina. O todo que é todo, é infinito, o todo que só quer que o mundo, o mundo interno, entenda que ele pode ser ele mesmo, perfeito, apesar de tudo.

Há um gracioso e longo tempo, eu vi um filme chamado "O Presente"...Depois, tentei lembrar de quais presentes ele tratava no filme e um deles era a Família e vinha com uma dúvida: "Como amá-los apesar de eles serem eles?" e depois de rever O poderoso Chefão e todas aquelas "famílias"  e sua noção de amor, lealdade e proteção, distorcidas ou não, achei razoável escrever tudo hoje em um tom de "apesar". Sobretudo, também depois de aconselhar "amorosamente" alguém que me perguntou: "Só que como eu vou saber que vale a pena esse amor?" e de eu responder: "Só tem um jeito, se você conseguir enxergá-lo apesar de tudo". 
Afinal, foi ultrapassando o "apesar de" que eu percebi que não há pesar capaz de apagar o amor que queremos ser possível.


Um videozinho que não me canso de ver! Há legenda...na barra inferior.

P.S.:Eu não poderia falar tão genuinamente bem do amor quanto ela. :) 

Uma semana inefável!

Comentários

  1. Como sempre um texto incrivel. Como sempre só posso concordar com cada linha. um tempo atras vi uma frase que achei interessante: " todos os sentimentos ruins são filhos do egoismo, assim como todas as virtudes são filhas do amor" Somente esse sentimento tão simples, genuino e primitivo pode gerar sentimentos tão bons e fortes apesar de todos esses " apesares de". E quanto a sua torção, Melhoras! :*

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