Pular para o conteúdo principal

Obsedante



Ontem, revi "Clube da luta" - que, obviamente, indico - e, por coincidência ou não, reencontrei uma frase do Tyler a qual inseri, de imediato, aos pensamentos turbilhonantes que andavam ocupando a minha mente há dois dias.

"As coisas que você possui acabam te possuindo" - (Clube da Luta)

Nem de longe, pretendo escrever sobre o consumismo, menos ainda de forma parcial, então, não demorarei a chegar ao ponto, antes que o presente leitor pense mais em capitalismo do que em existência.

Pouco antes, um amigo comentou sobre um vídeo de alguém aí sobre a superestimação dos Livros, e confesso não ter procurado - propositadamente - ver o tal vídeo antes de escrever, para não ser influenciada (sim, nada de riscos de mudar de ideia); no entanto, já no início da nossa conversa, mesmo sem discordar necessariamente do que havia sido tratado, resolvi expressar-me, em acréscimo sobre o que a temática lembrou-me (pessoas...):

Não acredito que seja apenas bem assim.

Muitos, de fato, acreditam consumir os livros, digo que...comprá-los e, por consequência, pô-los todos devidamente em estantes, em acúmulo visual, significa precisamente incorporar o conhecimento que ali está e, assim, adquirir alguma razão cada vez mais fácil e notável de ser (re)acessada. Vários, dentre os muitos, pouco parecem creditar às histórias, per si, o valor de um livro, logo, em algum ponto, pode-se percebê-lo no papel de objeto. (Aqui entra o acréscimo, em concordância, até com o que eu sei sobre o vídeo) O livro, não deve ser de fato superestimado, nem mesmo sobre os efeitos produzidos, dentre todos os motivos possíveis, talvez, na realidade ou em uma concepção pessoal, o livro-objeto seria, somente, uma representação (até exibicionista) do desejo obsedante de ter, desejo o qual nunca parece estar desacompanhado.


"Por que os mais inteligentes escondem o conhecimento? - Para compensarem os que se exibem usando-o, mesmo que não sejam os mais inteligentes ou os maiores buscadores."
(The good wife, a série)

E, em tal ínterim, ultrapassa-se, não se superestima (sem subestimá-lo também), a questão do livro, da fagocitose do conhecimento que ele teoricamente proporciona. Então, seria mais ou menos, a partir de agora, dar a César o que é de César. O livro, pobrezinho, não seria o culpado sozinho de tamanha, desenfreada e louca leitura em constante exibição, pois, na realidade atormentadora de uma concepção pessoal, o livro (este, tantas vezes, lindo), toma o sentido, não fortuito, de um canal, uma representação. 

Pode-se, em contextos diferentes, atribuir a carros, roupas e, inclusive e sobretudo, às pessoas a passibilidade de tornar-se um objeto de vício, uma obsessão; todavia, por quê?
Porque, mais uma vez, não se trata dos objetos, não São eles. Aliás, são as pessoas, sendo algo totalmente distinto da pretensão inicial. São as pessoas que se acostumaram a tentar ser quando só estão tendo, sim, em um processo tão incompleto, tendo, tendo, tendo. . .que, no final, só ter, não os torna nada, além da ideia de acúmulo, de querer.
Haa, uma obsessão não começa no objeto de...parte do sujeito, de nós; porque, para muitos, até o livro pode ser transformado no e pelo desejo megalomaníaco de ser a partir do ter.
Porque queremos sempre mais, inclusive, controle.

P.S.: Mesmo uma controladora (sim, eu), sabe que é a incompletude que nos impulsiona e a segurança da certeza é, nada mais que, uma ilusória chatice. Então, por favor...uma estante cheia de livros, um programa repleto de e-books, uma exibição total não vai te fazer ser nada mais, mas pode parecer muita coisa.

Sim, o post é para você que acha o livro um modo de ser (mais inteligente, mais estúpido, não sei bla bla bla - aff -) só pelo ter e não pela sensação provocada por uma boa historia.

Aff...pensando bem, talvez um dos motivos de tanta gente utilizar o Livro para tal propósito seja porque seria muito estranho fazer uma parede de prints (adoramos tirá-los não é?) de conversas (boas conversas), ou seria difícil exibir por aí gravações. Só sei que gostaria de parar de impressionar-me com essa capacidade esquisita de deturpar tudo, inclusive, uma boa história.

(Ah, sei que meu P.S é quase outro post hahahah, mas...para término, saibam que eu gosto muito de livros palpáveis também, é claro, só que também sei que a decisão correta em circunstâncias ou motivos errados torna-se errada)

Boa semana e boas histórias a todos ;)

Comentários

  1. Genial define!

    [...] Aff...pensando bem, talvez um dos motivos de tanta gente utilizar o Livro para tal propósito seja porque seria muito estranho fazer uma parede de prints (adoramos tirá-los não é?) de conversas (boas conversas), ou seria difícil exibir por aí gravações. [...]
    eu tive que rir muito nessa parte, lembrei muito das nossas conversas.

    [...]. Só sei que gostaria de parar de impressionar-me com essa capacidade esquisita de deturpar tudo, inclusive, uma boa história [...] Espero particularmente que você não perca essa capacidade jamais, é triste, mas preciso de alguém que entenda minha indignação com esse tipo de comportamento! Hahahah

    ResponderExcluir

Postar um comentário

Postagens mais visitadas deste blog

Escape

Parece que vivemos em um mundo de paixão desenfreada pela rapidez, pela grande eficácia, tudo altamente veloz, conturbado e ultra processado, uma vida de "fast", em que nos perdemos no próprio processo. De tão rápido e superestimulados, parece que estamos constantemente fatigados. E, embora eu tenha relacionado, nos dois últimos escritos, esta saturação à pandemia atual, as outras 'pandemias' - não tão metafóricas assim e ainda vivenciadas -, elas também trazem consigo um pedaço de cansaço, uma sensação de peso, de que é proibido parar ou desacelerar pelo mínimo momento que seja, que isso não condiz com o que a atualidade prega ou faz.  O fazer ganha muitos espaços nos nossos relógios e nas nossas rotinas, enquanto o nosso tempo perde bastante qualidade. Tornamo-nos cada vez menos eficazes porque não sabemos quem somos, aonde queremos ir, do que gostamos, o que devemos fazer e quando devemos parar ou continuar. Reduzimo-nos a uma lista de tarefas, repetidas nos dias. ...

Memória afetiva

  Há um ano, li " O sol é para todos", livro famoso, ganhador do Pulitzer, livro fantástico que por detalhes bem singelos, tornou-se um dos meus favoritos de fato. Agora, com mais um ano nas costas, em um "dia das crianças" - no qual me afasto cronologicamente de quando eu era uma -, termino um outro livro, do qual também gostei bastante, mas bem menos famoso de um autor muito conhecido sim. Foi uma leitura muito aprazível, daquelas que te deixam leve, que carregam o peso de uma pena, mas a importância de um mundo. Se a preguiça me agarrasse em cheio quando me perguntassem: "Por que você gostou tanto assim, não é sequer um dos mais conhecidos do autor, ou não trata de nada tão assim distópico, fantasioso, por que se importou? Talvez eu sequer tentasse formular uma resposta.  O fato é: não é preciso formular nada, pois é fácil, o encanto veio com um "puxavanco" à memória! Com uma linguagem em uma bela prosa poética, claro. Só não poderia eu dizer que m...

Tempo de sobra

 O que é tempo sobressalente quando, na verdade, nosso tempo é gasto no viver? Sempre me deparei, pessoalmente, com esta pergunta. Digo gasto, porque, em campo terreno, há uma quota limitada para cada um de nós. A propósito, inexorável.  Hoje, mais uma vez, continuei um dos títulos não-ficcionais que gosto de manter na cabeceira de leitura, para afiar as reflexões. O escolhido, ontem, foi "Sem tempo a perder", uma coletânea de textos da Úrsula Le Guin, dama da ficção científica, co-incidentemente com excertos tirados de quando ela também resolveu escrever em um blog.  Primeiramente, poucas pessoas estariam tão bem qualificadas para falar sobre "tempo", embora aqui nos caiba mais o aspecto filosófico do que científico a respeito dele, mas, talvez, ambos sejam indissociáveis. Em segundo momento, fico feliz de ter as mesmas elucubrações de grande nome da literatura, mas também devo dizer, ficaria ainda mais, caso tais conjecturas fossem mais comuns, entre nós, no nosso...