Pular para o conteúdo principal

Epidemias

Boa tarde, finzinho de tarde...

Durante esta finda semana, tive compromissos de trabalho fora do ambiente cotidiano. Eventos assim são até comuns na minha profissão e em outras também, eles pleiteam chegar a algum lugar, no aspecto de "educação continuada"; no entanto, muitas vezes, só ajudam a lembrar-me de observar, sobretudo, repetições e padrões. 

Acredito bastante na educação, desde as pequenas formas e informais até, digamos, aquela realmente acadêmica, acredito principalmente que ela deva proporcionar alguma mudança: seja de paradigma, de opiniões ou de modus operandi (de vida). A função é acender fagulhas. 

Falar em fagulhas, lembra-me mesmo de que o comentário de hoje, na realidade, gira em torno, não da educação, propriamente dita, mas, sim, de algo que se alastra mais rápido do que as fagulhas educativas que queremos acender. Isso se alastra, isso ascendeu. Sim, com "S', com um dígrafo.

Então, uma  historinha: 
"Cheguei no horário, tomei meu lugar e aguardei. Infelizmente, aqui vai o que a educação poderia modificar desde já, um hábito incômodo: aguardei muito. O problema não é e nunca foi esperar, mas não deveria ser necessário, só que 'todos' pensam: todo mundo chegará tarde, nunca começa na hora, ah, brasileiro é assim mesmo (aqui cabe inteiramente um novo escrito). O evento consistia em discutir informações e medidas a serem tomadas a respeito de mais uma das doenças em epidemia - no momento - que vivenciamos. Com uma hora aproximadamente de atraso, começamos, era um auditório e havia cadeiras livres na primeira fileira ainda. Duas horas após, entra uma participante toda empolgada, mas ela acabava de chegar; é claro, todos têm problemas e imprevistos, mas será? Ela sentou na primeira fila e a primeira coisa a ser feita, não foi aproveitar que quase ninguém percebeu a entrada atrasada em um evento que demandaria atenção e importância - diante do caos de saúde que estamos -, a primeira atitude, na verdade, foi: pegar o celular, tirar uma selfie, ali mesmo, como se desde o princípio estivera, na função que realmente deveria cumprir em detrimento do que apenas gostaria de passar em imagem: uma postagem em rede social, o que pareço estar fazendo, o que parece bonito e "cool" se eu estiver fazendo, afinal, não importa se eu estou realmente ali". Daí, minha observação, a qual também não tinha nada a ver com aquela epidemia, mas com outra que vivenciamos sem nos dar conta:
- Seríamos nós as imagens que postamos em vez de o que realmente fazemos, pensamos, de fato, somos?

Não somos o que fazemos apenas, ou o que pensamos, mas pensar e fazer são partes importantes nas nossas vidas, entretanto, agora uma inversão tem sido bem evidente. Fazer bem, pensar, sentir de verdade, tem significado: aparentar tudo isso.

e agora, boa noite ^^

Comentários

  1. Tenho a falta de costume de mexer no celular quando estou acompanhado, mesmo que tenha muito que possa fazer nele. - digo falta, pois esse virou o costume, mas não me faz falta alguma haha.
    E sempre noto a chance que a pessoa está perdendo de aproveitar e melhorar a experiência do encontro, reencontro ou seja qual for a ocasião, para simplesmente virar um outdoor virtual.
    Uma epidemia solitária que anda em multidão.

    ResponderExcluir
  2. Menina, tu merecia era um editorial só com essas postagens necessárias!
    Quero tatuar isso na testa das pessoas. Estamos vivendo ou só fazendo "stores" ?

    ResponderExcluir
  3. Menina! Estou encantada com tudo que li , não sei me espressar o que entendi ,ou melhor comentar, quero ler mais o que vc escrever, parabéns!!

    ResponderExcluir
  4. Menina! Estou encantada com tudo que li pena que não sei descrever o que senti,tudo muito real já li várias veses, palavras sábias, parabéns! Você e a menina dos olhos de Deus. Eu sou wilani , tô feliz porque consegui comentar...

    ResponderExcluir
  5. Achei muito importante você falar sobre isso!!! De fato, por vezes o que mais vemos é postar antes de aproveitar ou, então mesmo, substituir a vivência, a oportunidade com que estamos tendo com a mídia. Parabéns, você escreve muito bem e de uma maneira tão interessante que já estou lendo um atrás do outro hihi :)

    ResponderExcluir

Postar um comentário

Postagens mais visitadas deste blog

Escape

Parece que vivemos em um mundo de paixão desenfreada pela rapidez, pela grande eficácia, tudo altamente veloz, conturbado e ultra processado, uma vida de "fast", em que nos perdemos no próprio processo. De tão rápido e superestimulados, parece que estamos constantemente fatigados. E, embora eu tenha relacionado, nos dois últimos escritos, esta saturação à pandemia atual, as outras 'pandemias' - não tão metafóricas assim e ainda vivenciadas -, elas também trazem consigo um pedaço de cansaço, uma sensação de peso, de que é proibido parar ou desacelerar pelo mínimo momento que seja, que isso não condiz com o que a atualidade prega ou faz.  O fazer ganha muitos espaços nos nossos relógios e nas nossas rotinas, enquanto o nosso tempo perde bastante qualidade. Tornamo-nos cada vez menos eficazes porque não sabemos quem somos, aonde queremos ir, do que gostamos, o que devemos fazer e quando devemos parar ou continuar. Reduzimo-nos a uma lista de tarefas, repetidas nos dias. ...

Memória afetiva

  Há um ano, li " O sol é para todos", livro famoso, ganhador do Pulitzer, livro fantástico que por detalhes bem singelos, tornou-se um dos meus favoritos de fato. Agora, com mais um ano nas costas, em um "dia das crianças" - no qual me afasto cronologicamente de quando eu era uma -, termino um outro livro, do qual também gostei bastante, mas bem menos famoso de um autor muito conhecido sim. Foi uma leitura muito aprazível, daquelas que te deixam leve, que carregam o peso de uma pena, mas a importância de um mundo. Se a preguiça me agarrasse em cheio quando me perguntassem: "Por que você gostou tanto assim, não é sequer um dos mais conhecidos do autor, ou não trata de nada tão assim distópico, fantasioso, por que se importou? Talvez eu sequer tentasse formular uma resposta.  O fato é: não é preciso formular nada, pois é fácil, o encanto veio com um "puxavanco" à memória! Com uma linguagem em uma bela prosa poética, claro. Só não poderia eu dizer que m...

Tempo de sobra

 O que é tempo sobressalente quando, na verdade, nosso tempo é gasto no viver? Sempre me deparei, pessoalmente, com esta pergunta. Digo gasto, porque, em campo terreno, há uma quota limitada para cada um de nós. A propósito, inexorável.  Hoje, mais uma vez, continuei um dos títulos não-ficcionais que gosto de manter na cabeceira de leitura, para afiar as reflexões. O escolhido, ontem, foi "Sem tempo a perder", uma coletânea de textos da Úrsula Le Guin, dama da ficção científica, co-incidentemente com excertos tirados de quando ela também resolveu escrever em um blog.  Primeiramente, poucas pessoas estariam tão bem qualificadas para falar sobre "tempo", embora aqui nos caiba mais o aspecto filosófico do que científico a respeito dele, mas, talvez, ambos sejam indissociáveis. Em segundo momento, fico feliz de ter as mesmas elucubrações de grande nome da literatura, mas também devo dizer, ficaria ainda mais, caso tais conjecturas fossem mais comuns, entre nós, no nosso...